Educação Popular e Etnografia e pesquisas com prostitutas

As contribuições da Educação Popular e da Etnografia nas pesquisas realizadas em diálogo com prostitutas foi tema de seminário realizado na UFSCar. Os pesquisadores participantes Fabiana Rodrigues de Sousa (UNISAL), Flávia do Carmo Ferreira (CLARETIANO), José Miguel Olivar (PAGU/Unicamp) e Susanne Hofmann (University of Leeds e PAGU/Unicamp) apontaram aspectos que devem ser levados em consideração nas pesquisas desenvolvidas com mulheres que exercem prostituição, tais como identificar qual a concepção da mulher participante da pesquisa sobre sua prática, estudo dos conceitos prostituição e mercado do sexo, desenvolvimento de convívio metodológico e dialogicidade com participantes da pesquisa, dentre outros.

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Participaram do evento estudantes de cursos de graduação (Ciências Sociais, Linguística, T.O, Psicologia) da UFSCar, estudante do curso de graduação em Direito (USP), estudante de curso de pós-graduação UFF, professor do Colégio CAASO e professora da PUC-SP.

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As prostitutas também são mulheres trabalhadoras

Texto do deputado Jean Wyllys publicado na Carta Capital (05/12/2013).

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Muito me surpreenderam os ataques públicos de um grupo de mulheres da CUT contra o “PL Gabriela Leite”, projeto de lei que regulamenta o trabalho das/dos profissionais do sexo e o distingue do crime de exploração sexual; projeto construído democrática e participativamente pelas prostitutas organizadas e apresentado por mim, a pedido delas, na Câmara dos Deputados. 

E muito mais me surpreenderam as declarações maliciosas da secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva (gostaria que ela lembrasse que as prostitutas que escreveram o projeto também são mulheres trabalhadoras), que disse que eu estou “pressionando” minha amiga e parceira de lutas, a deputada Érika Kokay, para que assuma a relatoria do projeto. A deputada Érika é uma pessoa de convicções e não permite que ninguém a pressione; mas me parece que, ao contrário do que foi dito, essa declaração contra o projeto é que pretende ser uma forma de pressão (inútil) contra ela, para que não assuma a relatoria ou se pronuncie contra o projeto para não contrariar um setor do seu partido.

Sim, do partido, porque é claro que essa declaração de algumas mulheres da CUT é, na verdade, uma declaração de algumas mulheres do PT contra um parlamentar do PSOL que faz oposição de esquerda ao governo Dilma – declaração que tem um olho no cálculo eleitoral para 2014. As mulheres da CUT nunca me procuraram para conversar sobre o Gabriela Leite — como, em outras ocasiões, já me procuraram para apoiá-las em outras lutas das quais também faço parte, como a luta pela legalização do aborto e contra o assédio moral no mercado de trabalho —, como também não procuraram o movimento das prostitutas; o que, sem dúvidas, teria feito se tivesse um interesse real – e não apenas partidário – em debater essa reivindicação da categoria que eu, como deputado de um partido de esquerda que quer representar os interesses da classe trabalhadora e não tem medo de fazê-lo mesmo quando envolve temas “polêmicos”, decidi defender no Congresso.

É lamentável que as mulheres da CUT não levem em conta o trabalho que eu faço em outras frentes contra a exploração sexual de mulheres e crianças ou as emendas que destinei para políticas que deem oportunidade para mulheres prostitutas pobres que desejem deixar de ser prostitutas.

E é lamentável que não respeitem também a liberdade das mulheres prostitutas que querem continuar sendo prostitutas e ter seus direitos reconhecidos.

É curioso que as mulheres da CUT, por um moralismo não assumido, atentem contra as liberdades individuais e contra o direito de uma mulher de dispor sobre seu corpo, colocando-se ao lado do discurso dos fundamentalistas que impulsionam projetos para criminalizar o trabalho sexual, como o PL-377/2011 do deputado fundamentalista João Campos, o mesmo que defendia a bizarra lei de “cura gay”.

É chocante que as mulheres da CUT não enxerguem o óbvio: que a prostituição como atividade praticada por uma pessoa adulta e capaz é diferente da exploração sexual (esta, sim, é um crime a ser enfrentado; seja quando vitima mulheres, seja quando vitima crianças e é chamada equivocadamente de “prostituição infantil”) e que o Gabriela Leite – elaborado por mulheres prostitutas organizadas politicamente (quem melhor para falar em nome delas do que elas mesmas?) – diz respeito à prostituição como exercício da liberdade individual ou ao meio de sobrevivência de uma pessoa adulta, e a distingue da exploração sexual, inclusive apontando os meios de enfrentamento desse mal (a exploração sexual).

O “PL Gabriela Leite” – que leva o nome dessa saudosa lutadora, querida amiga, exemplo de luta e inspiração para mim e para muitos e muitas, recentemente falecida – é uma iniciativa das próprias trabalhadoras sexuais organizadas. Durante a minha campanha, elas me procuraram para debater esse assunto e colocar suas reivindicações em minha agenda, e eu assumi o compromisso de tocar essa pauta na Câmara, caso fosse eleito — eu eu honro minhas promessas de campanha, mesmo que impliquem num custo político por contrariar o senso comum, os preconceitos e os lobbys das corporações. Já deputado, mantive reuniões com trabalhadoras sexuais, tanto mulheres heterossexuais quanto travestis e transexuais, de diferentes estados, e também consultei a opinião dos garotos de programa — mas, como eles não estão organizados, não participaram como coletivo da redação do projeto. Tenho pelos trabalhadores e trabalhadoras sexuais o mesmo respeito — e o mesmo compromisso de acompanhar suas lutas — que por qualquer outro trabalhador ou trabalhadora.

O “PL Gabriela Leite”  como todo projeto, pode ser melhorado com o debate, mas este precisa ser honesto e qualificado, sem baixarias e, sobretudo, deve incluir aqueles e aquelas que são sujeitos políticos dessa luta. Devemos deixar atrás a arrogância de pensar e decidir em nome de quem que nem sequer convidamos a participar de uma discussão que diz respeito a sua vida. Quando Gabriela me trouxe essa demanda e eu comecei a me reunir com as prostitutas em diferentes estados e cidades, a dialogar com elas e a ouvir suas experiências de vida e suas reivindicações, ficou claro para mim que eu sabia muito pouco e precisava aprender. Aprendi com elas e estou muito agradecido! Um representante do povo precisa ouvir, não apenas falar! Tem aspectos do projeto que eu só entendi depois de ouvi-las, e gostaria que aqueles que fazem ataques tão levianos tivessem a mesma disposição e humildade.

O debate sobre a prostituição, tanto no movimento feminista quanto no movimento LGBT, está longe de acabar. Não há uma opinião comum, nem no Brasil, nem no mundo. Há quem seja a favor da regulamentação do trabalho sexual (como eu) e há quem seja abolicionista e considere que toda forma de prostituição é uma forma de “mercantilização do corpo da mulher” — esquecendo, aliás, a prostituição masculina.

Eu defendo que todos e todas nós sejamos donos do nosso próprio corpo e, pelo mesmo motivo que sou a favor do direito das mulheres a decidir sobre a interrupção voluntária da gravidez, sou contra a criminalização dos usuários de drogas atualmente ilegais, sou a favor do direito das pessoas trans a fazerem cirurgias de transgenitalização e/ou tratamentos hormonais (se assim o desejarem!) e a ter seu nome e sua identidade reconhecida (independentemente do que façam com o corpo), sou a favor da morte digna e da autodeterminação sobre o fim da própria vida; também considero que toda pessoa adulta e capaz tem direito a decidir livremente se quer exercer a prostituição.

Considero que há uma parte da esquerda e do feminismo que tem uma posição conservadora e moralista sobre o uso do corpo e sobre a sexualidade (moralista e, inclusive, machista!), pela qual comete a contradição ideológica de defender o direito da mulher a abortar mas, ao mesmo tempo, pretender que o Estado tutele o corpo dela quando se trata da prostituição. Se o trabalho sexual é uma forma de mercantilização do corpo, qualquer trabalho que envolva o corpo também é! O que é que diferencia o pênis, a vagina ou o ânus das partes do corpo que usamos em outros trabalhos considerados “braçais”, a não ser os tabus que interditam a sexualidade e querem escondê-la sob uma redoma sombria e custodiada por demônios?

“Eu sou mulher, mãe, filha, avó e puta”, dizia Gabriela Leite, desafiando o sentido pejorativo e preconceituoso da palavra. Já é hora de que nos assumamos: veados e sapatões, putas, negros, macumbeiros, nordestinos, favelados, latino-americanos, sem medo nem vergonha de dizer quem somos, sem medo nem vergonha de sermos felizes.

O Estado deve combater a exploração sexual e o tráfico de pessoas e garantir que ninguém seja obrigado/a (por um proxeneta, pela máfia ou por circunstâncias sociais) a exercer a prostituição. E, da mesma maneira, o Estado deve reconhecer os direitos daquelas pessoas que decidem se dedicar ao trabalho sexual, sejam do gênero masculino ou feminino. Sei que, por dizer isso, posso ser tachado de “liberal”. Ora, não tenho medo de ser “liberal” para defender o direito ao aborto ou à prostituição, da mesma maneira que, para defender os interesses da classe trabalhadora, não tenho medo de ser socialista.

Porém, essa discussão ideológica (teórica), que é muito interessante e deve ser feita, não pode ter mais destaque que os anseios humanos, reais, marcados no corpo, daqueles e daquelas que, como as prostitutas que me procuraram quando eu era, ainda, candidato (e elas acreditaram que, se eleito, poderia ser dos poucos que topariam, sem medo nem vergonha, defender as putas), precisam de nós para ter garantidos seus direitos fundamentais.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/cut-as-prostitutas-tambem-sao-mulheres-trabalhadoras-5575.html

Participação social de prostitutas é debatida no GT de Educação Popular da ANPED

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A 36ª  Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) foi realizada na cidade de Goiânia, no campus da Universidade Federal de Goiânia (UFG)  e teve como temática central o sistema nacional de educação e a participação popular. A participação social de prostitutas foi debatida no GT de Educação Popular a partir da apresentação do trabalho “Participação popular e engajamento de prostitutas na luta por direitos” de autoria de Fabiana Rodrigues de Sousa (GETS).

APROSMIG promove segunda edição do Miss Prostituta – Festival Dia Sem Preconceito

Segunda edição do Festival Dia Sem Preconceito movimenta a capital mineira com palestras, shows e desfiles que reforçam o respeito às diferenças; evento será realizado, nos dias 27 e 28 de setembro, no UAI Shopping no centro da cidade. O evento é resultado de uma parceria entre a APROSMIG (Associação de Prostitutas de Minas Gerais), ASSTRAV (Associação de Travestis de Minas Gerais) e o UAI Shopping.

Como parte do festival será realizada o II Miss Prostituta. A primeira edição desse concurso foi realizada pela APROSMIG, em 2012, e teve como objetivo exigir respeito e regulamentação do ofício da prostituta.

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Para mais informações: https://www.facebook.com/festivaldiasempreconceito

Suíça cria ‘caixa do sexo’ para proteger prostitutas

A Suíça – país onde a prostituição é legalizada – criou a chamada ‘caixa do sexo’ que consiste em um local seguro para prostitutas e demais pessoas que exercem prostituição atenderem a clientela. Trata-se de pequenas garagens de madeira, no estilo drive in, que possuem banheiros, armários, mesa para café e chuveiro. Há também um botão do pânico que pode ser acionado pela prostituta caso haja necessidade de intervenção de seguranças que fazem ronda no local.

Caixas do sexo - Suíça (Foto: AP).

Caixas do sexo – Suíça (Foto: AP).

A manutenção das caixas é feita com o dinheiro das próprias prostitutas que pagam US$ 43 (R$ 102, aproximadamente) anualmente e mais US$ 5,40 (R$ 12,90, aproximadamente) por noite de utilização.

 Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/para-proteger-prostitutas–su%C3%AD%C3%A7a-cria–caixas-do-sexo–181546124.html

Vídeo “Luta pelos direitos das prostitutas”

O Documento Yahoo exibiu, em julho, o vídeo “Luta pelos direitos das prostitutas”, com participação de Cida Vieira – presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (APROSMIG). Cida, filha de policiais em Belo Horizonte, comenta que largou outras profissões como a de bancária para dedicar-se ao exercício da prostituição.

 

 

Contra o bem de todos e felicidade geral da nação, governo viola princípios da Constituição e do SUS

Texto publicado em 07.06.13 no site do Jornal Beijo da Rua <http://www.beijodarua.com.br>

Nota da Rede Brasileira de Prostitutas sobre censura, intervenção e alteração de campanha de prevenção de Aids pelo governo federal

O movimento de prostitutas e a reforma sanitária, que levou à construção do Sistema Único de Saúde, têm pontos comuns em suas trajetórias: processos de diálogo, de criação e de ação. Se a Saúde tornou-se dever do Estado e direito de todos – orientada pelos princípios da universalidade, igualdade (sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie), integralidade, descentralização e participação da comunidade –, o movimento de prostitutas nasceu denunciando a desigualdade, o preconceito e a discriminação, e afirmando o direito ao trabalho com dignidade, respeito e cidadania.

Passados 30 anos, ao vetar e depois alterar drasticamente uma campanha de prevenção de Aids supostamente construída em parceria com as prostitutas, o governo usa esse grupo social para afirmar o que deseja, ignora conquistas do movimento social e viola diversos princípios democráticos e do SUS.

Em primeiro lugar, o da participação da comunidade. A oficina destinada a criar a campanha, promovida em março pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, resultou em peças que destacavam como elementos fundamentais na prevenção a felicidade (“sou feliz sendo prostituta”), a cidadania (“o sonho maior é que a sociedade nos veja como cidadãs), a luta contra a violência (“não aceitar as pessoas da forma que elas são é uma violência”) e a camisinha.

O que fez o governo? Ignorou todos aqueles elementos que comprovadamente contribuem para a prevenção, limitando-se a incentivar imperativamente o uso da camisinha, como se fosse um gesto puramente objetivo e mecânico, dissociado de subjetividades, direitos e vulnerabilidades. É a higienização da vida.

Em segundo lugar, ao selecionar apenas determinada mensagem entre as construídas na oficina, recusa o princípio da igualdade, por negar às prostitutas o direito de expressar seus sonhos e ideais, de cidadania, afirmação de identidade e visibilidade social, deixando de reconhecê-las como cidadãs e usuárias do SUS.

Ações de prevenção e promoção da saúde fundadas em diretrizes de cidadania, deve-se destacar, também fazem parte de outro princípio da Saúde violado, o da integralidade.

Ainda mais, com essa forma de agir, o governo se coloca na arrogante posição de só permitir às prostitutas aparecer como vítimas ou vetores, portanto, sujeito sem voz, que só tem o direito de ser resgatado pelo Estado provedor do único elemento (“pegue a sua camisinha na unidade de saúde”) que irá salvá-las da Aids.

A atitude do governo também revela a tentativa de alimentar a estrutura moral da família a qualquer custo, numa covarde cumplicidade com um discurso que relega prostitutas e outros segmentos “inconvenientes” à margem de um modelo de sociedade.

Ao se pronunciar logo de início contra o texto “Sou feliz sendo prostituta”, demonstra também a arrogância de não acreditar que uma prostituta pode ser feliz e o medo de que nós expressemos um desejo de felicidade que vai contra esse modelo.

E o desejo dos políticos? Que arranjos estão por trás dessa movimentação? Existe aí um projeto de felicidade? Por que só eles podem ser felizes? Qual o preço a ser pago pelas prostitutas? Nossos corpos, desejos e vidas é que estão pagando o preço de acordos políticos e negociações partidárias, o custo da prática da censura e do encerramento do diálogo.

Aqui ficaremos, sim, felizes com nossa profissão. Acreditando que não devemos conviver com a violência e a discriminação e que temos de ser respeitadas por nossas escolhas cidadãs.

E exigindo que o governo assuma, com coragem, a construção de políticas baseadas nos princípios constitucionais para toda a população, independentemente de orientação sexual, identidade de gênero ou profissão.

Cartaz reelaborada por ativistas do movimento nacional de prostitutas em resposta à censura à Campanha

Cartaz reelaborado por ativistas do movimento nacional de prostitutas 

Campanha de combate ao preconceito voltado a prostitutas é criticada pela bancada evangélica

Deputados da bancada evangélica usaram a comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP), para fazer críticas à campanha do Ministério do Saúde intitulada “Sem vergonha de usar camisinha”. A campanha foi lançada nesse fim de semana (1 e 2 de junho), com intenção de celebrar o dia internacional da prostituta e promover a prevenção à Aids, bem como à redução do preconceito voltado às prostitutas.

A polêmica foi gerada a partir da frase “Eu sou feliz sendo prostituta”, apresentada em um  flyer. O material da campanha é composto por vídeos produzidos por profissionais do sexo e por flyer com imagens e frases de mulheres que atuam como lideranças de associações de prostitutas localizadas em distintas regiões do Brasil.

Flyer da Campanha "Sem vergonha de usar camisinha"

Flyer da Campanha “Sem vergonha de usar camisinha”

Diante das críticas, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recuou e mandou retirar a peça “Eu sou feliz sendo prostituta” da página do Departamento de Doenças Sexuais Transmissíveis (DSTs), Aids e Hepatites Virais, justificando que o mesmo estava em teste. Esta não é a primeira vez que o Ministério da Saúde determina a retirada de material com potencial de causar polêmica. Anteriormente, por determinação do governo, foi recolhido um kit de prevenção de Aids dirigido a adolescentes. O material abordava temas como homossexualidade, drogas e gravidez. Em 2012, um vídeo de carnaval trazendo um casal gay também foi retirado de veiculação.

Conforme matéria publicada no site da revista Época, o assunto entrou em debate com uma manifestação do deputado João Campos (PSDB-GO). “Esse governo tem uma capacidade de buscar uns temas que me assusta. Eu sou feliz sendo prostituta, diz campanha do Ministério da Saúde do governo Dilma Rousseff. Não tem outra política pública decente para fazer?”, questionou Campos. “Já vejo os títulos das próximas campanhas. Sou adúltero, sou feliz. Sou incestuoso, siga-me. Sou pedófilo, sou feliz, sou realizado”.

Enquanto João Campos se assusta com a positiva abertura do governo em problematizar o tema da prostituição, outras pessoas – como eu – se assustam com o fato de um deputado que se diz preocupado em discutir direitos humanos fazer a associação entre adultério, incesto, pedofilia e prostituição como se tudo fosse a mesma coisa. Pois a prostituição – prestação voluntária de serviços sexuais por pessoas adultas, ao contrário do que muitos pensam, não é uma prática criminal que deva ser combatida, mas sim uma ocupação reconhecida desde, 2002, na Classificação Brasileira de Ocupações. O que ele entende por política pública decente? É decente uma comissão de Direitos Humanos refutar uma Campanha que visa a promover o uso do preservativo e o combate ao preconceito que recai sobre mulheres que exercem prostituição?

Possivelmente para esses parlamentares uma política pública decente seja aquela pautada na “moral e nos bons costumes” que dita aos grupos populares onde devem viver e o que devem ou não fazer,  como nos indica as falas dos parlamentares: “Estamos combatendo a prostituição infantil e vem uma campanha incentivando. Você está combatendo, tirando das ruas, aí vem a campanha dizendo que é feliz, ninguém é feliz” , disse a deputada Liliam Sá (PSD-RJ). Já Costa Ferreira (PSC-MA) afirma: “A mulher não nasceu para ser prostituta, nasceu para ser mãe de família”, afirmou Costa Ferreira.

Fico me perguntando se é possível falar em direitos humanos sem considerar a autodeterminação e sem considerar os desejos e vontades dos sujeitos. Como falar em direitos humanos se o destino é predeterminado por parlamentares “iluminados” que definem o que é uma vida decente, a qual todos devem aderir sem questionar se realmente todas as mulheres nascem para ser mãe de família, se devemos nos confinar no lar e ser tirad@s das ruas, se devemos continuar aceitando a proposital e mal intencionada confusão entre exploração sexual infantil e prostituição.

Não temos como saber se uma pessoa é feliz – seja ela prostituta ou não – sem questioná-la. Mas o que adianta perguntar se já temos uma visão preconcebida tão cristalizada que nos impede de ouvir o que o outro tem a dizer? Não dá para falar em direitos humanos sem falar no diálogo que favorece a abertura ao reconhecimento do outro em sua singularidade.

Campanha celebra Dia Internacional da Prostituta

A Campanha “Sem vergonha de usar camisinha” lançada hoje pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde é uma forma de celebrar o Dia Internacional da Prostituta e tem como objetivo dar visibilidade a esse público veiculando materiais que se oponham ao estigma da prostituição associada à infecção pelo HIV e aids.  A campanha é também uma homenagem a Rosarina Sampaio  da APROCE (Associação de Prostitutas do Ceará) – que faleceu este ano em 25 de março.  A campanha circulará nas redes sociais até o dia 2 de julho, quando acontece um seminário sobre prostituição e prevenção às DST.

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O material da campanha – banners e vídeos – está disponível nos links: http://www.aids.gov.br/galerias/2013/54783  e http://fb.com/mariasemvergonhaps. Esse material foi produzido durante a Oficina de Comunicação em Saúde para Profissionais do Sexo realizada entre os dias 11 e 14 de março de 2013, em João Pessoa (PB).

Participaram da Oficina representantes de organizações não governamentais, associações e movimentos sociais que atuam junto a profissionais do sexo de todas as regiões do país, apoiando o enfrentamento às DST, aids e hepatites virais, na promoção de saúde e na luta pelos direitos humanos. Durante a Oficina de Comunicação em Saúde, as participantes foram convidadas a conhecer técnicas de criação, redes sociais, produção de roteiro e vídeo com foco na disseminação de informações de prevenção nas redes sociais e produziram o blog Prostitutas Absolutas <http://prostitutasabsolutas.blogspot.com.br>.

Mulheres participam de Oficina Comunicação em Saúde para Profissionais do Sexo -  João Pessoa/PB

Mulheres participam de Oficina Comunicação em Saúde para Profissionais do Sexo – João Pessoa/PB