Daniela da Silva é promotora legal de São Carlos e encaminhou mensagem solicitando posicionamento da população frente às informações depreciativas e preconceituosas veiculadas sobre prostitutas em notícia emitida pela rádio Intersom FM (São Carlos/SP), em 9 de agosto. A promotora legal autorizou a divulgação do e-mail enviado por ela ao autor da notícia Mendes Aguiar.
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Bom dia senhor Mendes Aguiar,
Ouço quase todos os dias o Jornal da Intersom e o Intersom Debates.
Moro em São Carlos há 13 anos e desde que descobri a parte de notícias da rádio, venho acompanhando pois acho o formato bastante interessante. Formei-me Promotora Legal Popular na primeira turma do curso oferecida pela prefeitura aqui em São Carlos. Uma das funções da promotora legal popular é esclarecer as pessoas acerca dos direitos da mulher.
Pois bem, quinta passada pela manhã, eu ouvia a Intersom quando entrou seu bloco de notícias policiais. Acompanhei com espanto a notícia a seguir:
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Polícia põe prostitutas para correrem na baixada do mercado
Ontem (08), a Polícia Civil, a Policia Militar, Guarda Municipal e Fiscais da Prefeitura, fizeram uma faxina na baixada do mercado para tentar inibir o comércio sexual. A operação foi realizada ontem pelo fato de ser o quinto dia útil do mês, ou seja, é o dia de pagamento, sendo os maiores interessados os homens aposentados. Durante a operação havia na baixada do Mercado Municipal cerca 12 mulheres de programa aliciando os aposentados. Uma casa na rua Geminiano Costa que era usada para o encontro sexual foi autuada em R$ 700.00 e fechado. Uma cafetina, de 56 anos e duas mulheres de programa foram detidas, ouvidas pela delegada Denise Szakal na Delegacia da Mulher e depois liberadas.
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Meu espanto deu-se pelo seguinte:
1) A chamada da notícia pareceu-me desrespeitosa com as prostitutas, pois dá uma conotação de crime ao comércio sexual. Vender sexo não é crime, é uma ocupação.
2) No corpo da notícia, a palavra “faxina” é bastante ofensiva, pois reforça a ideia de que estas mulheres, ou o serviço que prestam seja algo “sujo”. Isso é bastante grave pois este tipo de postura pode legitimar a violência contra estas mulheres. Não sei se sua intenção foi dizer que estas mulheres mereçam menos respeito que quaisquer outras, mas é o que se pode depreender do texto.
3) A forma como o fato é descrito dá a impressão de que os aposentados não procurariam serviços sexuais se não fossem “aliciados” pelas mulheres. Será mesmo? E ainda que isto seja verdade, um aposentado não tem seu direito garantido pela Constituição Federal de ir e vir e de gastar seu dinheiro com o que lhe provenha (inclusive serviços sexuais)?
Será que este tipo de ação policial não garante apenas o direito de um grupo ao invés de atender a população como um todo?
Prostitutas e aposentados também são cidadãos de direitos.
Atenciosamente,
Daniela