Clipe “Igualdade de Direitos” visa a promover direitos humanos de pessoas que exercem trabalho sexual

O projeto INDOORS* produziu o clip “Igualdade de Direitos” para promover os direitos humanos de profissionais do sexo. Este vídeo foi feito com e para profissionais do sexo para defender a ideia de que trabalho sexual é trabalho, e que profissionais do sexo devem ter acesso aos mesmos direitos que os demais trabalhadores. O vídeo apresenta cenas do cotidiano de duas mulheres trabalhadoras que almejam respeito, segurança e garantia de direitos para realizar suas atividades. O clipe está disponível no youtube em 17 idiomas. Segue abaixo a versão em português:

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* Projeto promovido por uma parceria de nove organizações em nove países da União Europeia com o objetivo de apoiar, fortalecer e capacitar profissionais do sexo.

Músicas e Prostitutas – QUEM HÁ DE DIZER

Ai vai mais uma da série “músicas e prostitutas”: o samba-canção Quem há de dizer,  de 1948, de autoria de Lupicínio Rodrigues (que escreveu a letra) e Alcides Gonçalves (que musicou a canção).  Alcides era pianista de casas noturnas em Porto Alegre/RS e, enquanto tocava na boate Marabá, observava o assédio dos clientes a sua namorada que trabalhava na casa.  Segue abaixo, letra da música e um vídeo, no qual a canção é interpretada por Arrigo Barnabé.

Fonte: <www.paixaoeromance.com.br>

QUEM HÁ DE DIZER

Quem há de dizer
que quem você esta vendo
Naquela mesa bebendo
É o meu querido amor
Repare bem que toda vez
que ela fala
ilumina mais a sala
Do que a luz do refletor
O cabaré se inflama
Quando ela dança
E com a mesma esperança
Todos lhe põe o olhar
E eu, o dono,
Aqui no meu abandono
Espero louco de sono
O cabaré terminar

Rapaz! Leva esta mulher contigo
Disse uma vez um amigo
Quando nos viu conversar
Vocês se amam
E o amor deve ser sagrado
O resto deixa de lado
Vai construir o teu lar
Palavra! Quase aceitei o conselho
O mundo, este grande espelho
Que me fez pensar assim
Ela nasceu com o destino da lua
Pra todos que andam na rua
Não vai viver só pra mim

Músicas e Prostitutas – GENI E O ZEPELIM

Aí vai a segunda canção dessa série “músicas e prostitutas”, aproveitando o aniversário do Chico Buarque apresentamos a clássica Geni e o Zepelim. Esta canção faz parte do álbum “Ópera do Malandro” de 1979.

GENI E O ZEPELIM

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co’os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:

“Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!”

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: “Mudei de idéia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir”.

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.

Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:

“Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Associação Mulheres Guerreiras (Campinas) promove evento que discutirá auto-organização de profissionais do sexo

A Associação de Profissionais do Sexo Mulheres Guerreiras (Campinas/SP)  em parceria com o Coletivo Marcha das Vadias (Campinas) promoverá, no dia 29 de junho, o evento “Profissionais do Sexo: Unidas pelo Respeito” com objetivo de discutir a auto-organização dos profissionais do sexo, suas bandeiras políticas e a interseccionalidade entre trabalho, corpo, sexualidade e o espaço urbano.

Essa é uma atividade realizada em comemoração ao dia 2 de junho – Dia Internacional da Prostituta que constitui-se  como marco da organização de profissionais do sexo. Em 1975, nesta data, 150 mulheres prostitutas iniciaram o movimento de luta por seus direitos, ocupando uma igreja na França e denunciando a violência policial e o estigma social ao qual estavam submetidas.  O evento conta com duas mesas que serão realizadas no IFCH (Unicamp) e no bairro Itatinga.

Programação do evento

Sobre o livro “Tudo o que você não queria saber sobre sexo”

capa do livro

Publicado pela editora Record o livro “Tudo o que você não queria saber sobre sexo”  tem como autores a antropóloga Mirian Goldenberg e o cartunista Adão Iturrusgarai. Com base em dados adquiridos em pesquisas realizadas pela antropóloga, o livro aborda temas como: representações e diferenças entre homem e mulher, casamento e família, novas conjugalidades, sexualidade, infidelidade, intimidade, corpo e risada.  Cada tema é ilustrado com bastante humor e ironia por meio de charges e tirinhas elaboradas por Adão Iturrusgarai. O livro apresenta ainda cópia das mensagens eletrônicas trocadas pelos autores na ocasião do planejamento da publicação.

Segundo Mirian Goldenberg o objetivo do livro foi demonstrar o desencontro entre o que as mulheres e homens querem com relação ao sexo. Ela diz: “Eu acho que se os leitores prestarem atenção nessa diferença até visual das demandas femininas que ocupam páginas e páginas, e dos desejos masculinos que são tão curtinhos… o livro já valeu!”. Segue abaixo, vídeo em que a autora fala mais sobre essa obra.

Músicas e Prostitutas – MAL NECESSÁRIO

Em homenagem às prostitutas, durante o mês de junho publicarei alguns posts sobre canções que fazem alusão à essas mulheres e à prática da prostituição. Ao contrário de algumas abordagens teóricas que insistem em retratar essa ocupação de forma homogênea, as canções brasileiras se constituem como uma linguagem eficaz no sentido de descortinar a prostituição como prática plural e multifacetada.

A canção “Mal necessário” (composição de Mauro Kwitko e interpretação de Ney Matogrosso) dará início a esta série.  O compositor Mauro Kwitko fez a música após uma visita ao Ney, em 1978. E sobre o processo de criação ele diz:  “Quando cheguei em casa, sentei no chão da sala e, depois de um tempo em que estive fora de mim, a letra estava escrita e a melodia pronta. Acordei, peguei o violão, e cantei a letra. Telefonei para ele (referindo-se a Ney Matogrosso), que me pediu para retornar a sua casa. Cantei a música, ele pegou um gravador cassete, gravou, não tinha nome. Pedi a ele que desse o nome, pois a música era para ele. Chamou de “Mal Necessário” e foi o sucesso que ainda é passados 32 anos!” .      Ao  ser   questionado   sobre o que a letra diz,   Kwitko   afirma:     “Nem eu sei bem… Ela é um Mantra e um Mantra não pode ser entendido racionalmente, não se explica um Mantra, se sente”.  (Fonte: maurokwitkomiscelaneas.wordpress.com).

Inicio essa série com esta canção, pois sinto que ela tem diversas relações com o cotidiano vivenciado por pessoas que exercem prostituição. O próprio título já faz uma alusão a essa atividade, uma vez que a prostituição mesmo sendo reconhecida como ocupação desde 2002, ainda hoje é percebida como “mal necessário” por muitos grupos sociais. Todavia a canção evita análises binárias (bem x mal) e felizmente assume as distintas conotações “sou o certo/sou o errado”.  Durante convivência com prostitutas de casas noturnas de São Carlos pude perceber que essa prática pode ser ressignificada de diversas maneiras pelas mulheres que dela se ocupam apresentando-se como espaço de possibilidade de vivenciar o amor, a amizade, a solidariedade, a diversão, o prazer, processos de escuta, etc, dessa forma o estar na noite não ganha apenas a conotação de exploração/opressão/ exclusão, mas também pode ser entendido como “lugar no mundo”, isto é, como opção/transformação/ projeto. Abaixo, segue letra na íntegra da canção para que vocês possam senti-la e atribuir novas interpretações.

Mal Necessário

Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou a mesa e as cadeiras deste cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo
Sou a febre que lhe queima, mas você não deixa
Sou a sua voz que grita mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta quando as vozes se ocultam
Nos bares, nas camas, nos lares, na lama.
Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na cama.
Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo
Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na lama
Na lama, na cama, na cama.

GEMPAC comemora o Dia da Prostituta com programação especial

Por Flávia do Carmo Ferreira

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De maneira bem humorada o Gempac – Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará, realizou uma programação especial para celebrar o dia 02 de junho, Dia Internacional da Prostituta. Com o nome de Puta Dei, a programação teve o objetivo de fortalecer o debate sobre a profissão e, principalmente, quebrar tabus que impedem e distorcem um tratamento real sobre as questões da classe.

Para Leila Barreto, secretária do Gempac, a programação arrojada é o verdadeiro e mais íntimo reflexo do cotidiano destas profissionais: “Nossa programação quer instigar a reflexão, discutir a realidade e trazer para este universo algo lúdico, que é o que nos envolve no dia-a-dia mesmo”. As atividades que foram propostas no projeto aprovado pelo Fundo Brasil – como lançamento do blog e a mostra sonora Zona de Direitos, é o resultado de uma curadoria sobre as notícias relacionadas a prostituição ao longo destes vinte anos de atuação da entidade, e que será lançada no Puta Dei – são tentativas de trazer este novo olhar sobre as prostitutas”.